NEM TODA ESCOLHA É SÁBIA
Quem já não
ouviu essas frases: “viver é fazer escolhas” ou “a vida é feita de escolhas.”
São frases que soam como um clichê, mas que no fundo trazem um quê de
concretude na vida. Digo, são frases que corroboram para a nossa condição
diante da vida e das circunstâncias. Por conta disso, a todo o momento somos
confrontados com situações que muitas vezes não sabemos qual caminho tomar e
pior, podemos cair na teia da ilusão que tudo vai se ajeitar com o passar do
tempo: o tempo passa e nada se modifica.
Se partirmos
da premissa de que não podemos deixar de escolher, então como poderíamos fazer
uma escolha correta. Espera aí! Escolha
correta?! Não existem escolhas corretas. O que existem são escolhas. Como
poderíamos saber de antemão se uma escolha é correta ou não? Não podemos, pois
precisamos vivenciar tal escolha para dizer se foi benéfica ou não, ou seja, é
apenas pela vivência que poderemos chegar numa conclusão da nossa escolha.
Diante disso, podemos pensar que toda escolha tem um motivo de ser, uma
intencionalidade, como diria o filósofo Edmund Husserl. Mas e no caso de uma
pessoa escolher um caminho considerado tortuoso ou complicado? Como por
exemplo, usar drogas. Não seria uma escolha errada? Não digo errada, mas sim
uma escolha diante de situações que essa pessoa não está dando conta e que ela
não está sabendo como lidar. A sua alternativa é uma escolha para tentar
sobreviver frente às dificuldades que ela mesma não está conseguindo suportar.
E ela não está fazendo isso de maldade, mas pelo motivo dela não saber o quê
fazer no momento. Diríamos que seja uma espécie de escolha contra si mesma. E
claro, pra quem olha de fora, é fácil rotular essa atitude como sendo de uma
pessoa fraca e que não consegue lidar com situações adversas. E não é o caso,
ela está tentando, só que a sua escolha não é a mais sábia do mundo, mas, mesmo
assim, ela não deixa de ser uma escolha.
O que ela está
dizendo é: estou tentando sobreviver nesse mundo tão complicado e que não estou
sabendo como fazê-lo. Em suma: ela está pedindo ajuda e não uma nosologia ou
rótulo. Sua escolha é uma tentativa de manter-se viva, presente na vida, só que
o preço dessa escolha é caro demais. Ela escolhe o que pode no momento ou o que
ela considera como suportável. E nesse caso, o problema em si se torna algo
secundário, o foco passa a ser a pessoa na relação com um problema e que acaba
afetando na sua escolha: se ela escolhe dormir em excesso, por exemplo, é uma
escolha pela dificuldade de lidar com algo no mundo desperto ou acordado.
Então, qual
seria a escolha já que não existe uma escolha correta? Devemos escolher a nós
mesmos. Quando digo isso, refiro-me a escolha pela nossa percepção de como fazemos, como atuamos, ou seja, qual o motivo deu fugir de certas situações
ou confrontos. Na realidade, não fugimos das situações, nós fugimos de nós
mesmos, das nossas dificuldades e de encará-las de frente. É mais fácil dizer
que somos assim mesmo ou já nascemos pré-dispostos para tal comportamento: se
estou pronto ou definido, não preciso fazer nada para mudar. Afinal de contas,
sou algo pronto, com função previamente estabelecida. E convenhamos, todo se
humano não está pronto ou acabado, mas sim em construção, em abertura para a
vida. Por isso, cabe a ele compreender sua dificuldade que leva à sua escolha
como uma tentativa de burlar a si mesmo. Lembrando que essa compreensão ainda
não se configura como uma mudança, uma vez que a pessoa pode compreender e
escolher manter-se alheia de si mesma, ou seja, ela reconhece onde precisa
mudar, mas tem dificuldade para fazê-lo. E isso deve ser trabalhado. Portanto,
um bom caminho é a compreensão, mas uma escolha saudável é a ação diante da sua
própria dificuldade. É a ação – que é uma escolha – que modifica sua postura
perante a vida e, principalmente, a si mesmo.
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