terça-feira, 29 de maio de 2012


Método Fenomenológico

         Método desenvolvido por Edmund Husserl (1859-1938) foi criado na tentativa de superar a cisão entre as duas principais correntes da filosofia contemporânea – o racionalismo e o empirismo. O primeiro pode ser sintetizado na máxima racionalista do francês René Descartes: Cogito ergo sum ou “Penso, logo existo”. Sua visão racional do mundo coloca como única certeza o pensar e que não posso duvidar dessa atitude. O segundo expresso na proposta do empirista escocês David Hume. Ele enfatizava que só podemos adquirir o conhecimento a partir da experiência imediata através dos sentidos, ou seja, quando experimentamos algo ou situação pelos nossos sentidos é que de fato podemos conhecer.

            Husserl tentou solucionar tal impasse propondo que devemos “voltar às coisas mesmas”. Mas o que são “as coisas” para ele? São os fenômenos como aparecem à consciência; a experiência imediata que precede o pensamento ou a vivência que temos dos fenômenos. São eles que devem ser investigados pelos filósofos. Daí o nome dado por ele para essa atividade de fenomenologia.

            Desta feita, Husserl pretende resolver o dualismo entre essência e aparência quando propõe suas duas máximas: “Toda consciência é consciência de algo” e “O objeto é sempre objeto para a consciência”, expressam o princípio da intencionalidade do pensador. Consciência e objeto estão ligados diretamente nesse processo, uma vez que não existe consciência sem objeto para desvelá-lo, assim como o objeto não existe sem uma consciência para apreendê-lo. Portanto, a oposição idealismo e realismo parece solucionado, assim como relação entre ser e consciência superada. Como Erthal diz: “A consciência não é um lugar, tal como uma caixa que abriga conteúdos mentais, conforme a concepção wundtiana, mas uma espécie de movimento para fugir de si mesma, um escape para fora de si, para poder ter uma existência [...]” (ERTHAL, p.29, 1989). A consciência nesse aspecto perde a concepção de mero receptáculo onde armazenaria informações, passando a alcançar os objetos que para ela (consciência) aparecem como fenômenos.

 A descrição dos fenômenos como aparecem à consciência - método fenomenológico – revelam que cada fenômeno apresenta um núcleo significativo denominado de eidos ou essência. E para alcançarmos à essência básica se faz necessário diversas reduções do fenômeno, que Husserl denominou de epoché ou redução fenomenológica. Todos os condicionamentos aprendidos: histórico-sócio-cultural são colocados “entre parênteses”, a ênfase recai única e exclusivamente na vivência do sujeito, na maneira como ele se relaciona com o fenômeno. Só assim, chegaremos à essência do fenômeno.

E como o método fenomenológico é aplicado na terapia existencial? É usado para captar a pessoa como de fato ela é, sem idealizações. Este método procura compreender o indivíduo como um ser-no-mundo, único e particular. O método fenomenológico não se trata de um método ortodoxo de terapia, mas sim, uma maneira de compreender a realidade expressa pelo cliente, suas intenções no mundo. Para que isso efetivamente aconteça, é necessário que terapeuta e cliente estejam juntos, que possam estabelecer um encontro verdadeiro, uma vez que cada encontro-relação é único.

O cliente traz o fenômeno – problema. O terapeuta deve suspender seus valores e sentimentos pessoais para captar aqueles expressos pelo cliente, como se deixasse seu “eu” suspenso na relação para servir como um espelho que reflete às intenções do seu cliente. Como ele se sente e o que ele demonstra ao relatar sua questão. Todo e qualquer juízo externo à vivência é suprimido. Diversas reduções fenomenológicas são realizadas para alcançar esse intuito: redução teológica, redução psicológica, etc. A empatia, nesse caso, é que possibilita o verdadeiro encontro na qual o terapeuta se coloca no lugar do seu cliente para perceber seu mundo fenomênico. Já o cliente tem a possibilidade de se compreender por intermédio do terapeuta. A compreensão empática então é o pilar do método fenomenológico. 





Referências Bibliográficas:



ERTHAL, Tereza Cristina Saldanha. Terapia Vivencial: uma abordagem existencial em psicoterapia – Petrópolis, RJ: Vozes, 1989.



ERTHAL, Tereza Cristina Saldanha. Treinamento em psicoterapia vivencial; Campinas, SP: Livro Pleno, 2004.