Onde você está?
Desde
o momento que somos lançados ao mundo, passamos
a conviver com o efêmero; com aquilo que nos escapa; que foge sem percebemos, e
que de certa maneira delimita nossa existência. Refiro-me aqui ao tempo. Tempo
que é expresso em: passado, presente e futuro. O primeiro servindo como
registro histórico das nossas vivências, como se fosse uma espécie de museu
mental no qual visitamos a qualquer momento para recordarmos situações ou mesmo
pessoas que fizeram parte da nossa vida. O segundo praticamente esvai-se sem
que percebamos sua real presença. Quando nos damos conta, ele já partiu, deixou
de ser, e que talvez por conta disso sentimo-nos vulneráveis para de fato
vivenciá-lo. Quanto ao terceiro e último, este nos convida para viajarmos até o
mundo das nossas aspirações e desejos, ou seja, daquilo que almejamos
conquistar no porvir. Este como um lugar tão desejado por muitos e ao mesmo
tempo tão temido também, uma vez que não sabemos se vamos ou não conseguir alcançar
nossas metas no futuro, não é mesmo?
Bem, não quero aqui discorrer acerca
do tempo ou mesmo propor um compêndio de como deveríamos lidar com ele, até
porque cada pessoa tem uma maneira particular nessa relação. Diante disso,
convido você para pensar: você costuma viver aonde? No passado? No presente? No
futuro? Já havia pensado a respeito? Não? Não sei se você concorda comigo, mas
você sempre está no momento presente. Exatamente! Você está sempre no aqui-e
agora. Por exemplo: quando você relembra de fatos ou de pessoas do passado,
você está trazendo tais lembranças no aqui-e-agora. Lembranças que são
representadas por imagens, sons e, principalmente, sentimentos. Da mesma
maneira quando você vislumbra o futuro, desejos e expectativas são criados por
você também no presente. Ou seja, o único momento que existe na sua vida de
maneira concreta é o momento presente. A questão talvez seja a dificuldade de
permanecer nele.
Mas por que escolhi falar do momento
presente? Um momento que escapa tão facilmente da nossa retina e, talvez, por
isso, deixamos de percebê-lo como o único momento que podemos fazer alguma
coisa, transformar uma dada realidade. Minha escolha por versar sobre este
momento não se deve exclusivamente a chance que temos para fazer algo nele,
mas, principalmente, pela possibilidade de estarmos cônscios do como estamos atuando enquanto estamos
nele. Como se tivéssemos a possibilidade de vivenciar uma situação pela
primeira vez, tal qual a criança faz quando está descobrindo o mundo. Ela fica
imersa na sua descoberta, cada detalhe parece não escapar-lhe aos seus
sentidos.
No entanto, essa aventura presencial não é uma tarefa tão fácil para um
adulto. Afinal de contas, são tantos pensamentos que passam pela cabeça, que
fica difícil vivenciar uma situação de maneira plena, intensa. A pessoa até
sabe que está fazendo algo, mas escapa à sua percepção o como está fazendo. Como se ela estivesse ligada numa espécie de
piloto automático existencial, no qual deixando de perceber-se nas suas
atitudes, deixa, ao mesmo tempo, de conhecer-se a si própria, ou seja, o como realiza suas escolhas. Perdendo o
contato consigo mesma, acaba condenando o momento presente à mesma sina.
Estar no momento presente é um
instante mágico e ao mesmo tempo revelador, uma vez que ele poderá propiciar a
chance da pessoa perceber-se a si mesma, o como
ela está atuando. Ao mesmo tempo em que a mesma estará ampliando sua
consciência e quem sabe percebendo que ela não está, de fato, no aqui-e-agora.
O que de certa forma não bom ou ruim, mas sim uma compreensão da própria
não-presença. Não-presença que afasta uma melhor compreensão ao próprio
respeito e que também retira a responsabilidade dela estar realmente aonde ela
deve estar. Se pessoa não se responsabiliza pela sua presença, ela não precisa
fazer nada; não precisa correr riscos; não há necessidade em arriscar-se em um
novo modo-de-ser. Quem sabe ela então prefira viver no passado, onde as
condições reais para efetuar uma mudança já se encontram consumadas ou, também,
ela pode tentar imaginar um futuro no qual a esperança pode funcionar como um
antídoto para os males do presente. De qualquer maneira, é a própria pessoa
quem escolhe o momento que deseja viver. E mesmo assim, ela ainda pode pensar até que
ponto o seu próprio passado ou futuro idealizado não estariam atrapalhando no
seu momento presente.
Então... E você? Qual é a sua escolha?
Você está aonde?