Mudar ou não mudar, eis a questão
Gostaria de falar acerca de um tema que
para algumas pessoas pode ser considerado como um grande obstáculo na vida: a
mudança. Quem já não sentiu aquele friozinho na barriga só em pensar na
possibilidade de ter que fazer uma mudança na própria vida. Não me refiro aqui
exclusivamente à mudança de emprego ou de um relacionamento amoroso, mas,
principalmente, a proposta de mudança psicológica, do próprio EU. Mudança esta desejada por muitos e
ao mesmo tempo temida também, uma vez que ela requer responsabilidade e
engajamento por parte da pessoa. Cabe a ela, a responsabilidade por tal
escolha, assim como também sua ação para alcançar seu desejado projeto. A
questão, é que a busca pela mudança pessoal não se faz sem angústia, pois a
pessoa terá que abandonar-se para recriar-se a si mesma. E talvez aí haja a
possibilidade de um impedimento: abrir mão de um comportamento já conhecido,
habitual, para (re) construir-se numa nova pessoa. Como se a mesma fosse uma
espécie de fênix renascida das
próprias cinzas.
A mudança traz o desafio do novo, do
desconhecido, o que muitas vezes pode fazer com que a pessoa se paralise. O
medo da perda do próprio EU torna-se
uma ameaça. Tem-se uma ideia equivocada no transcurso da mudança que o EU se perderá. Na realidade o EU não se perde, mas ocorre uma
ondulação durante esse processo – fator que faz parte da mudança. Em alguns
aspectos a pessoa pode se desenvolver melhor do que em outros, o que não impede
pela busca de um melhor aprimoramento pessoal. A suposta perda do EU não ocorre, senão seu próprio
desenvolvimento.
Se por um lado inexiste o medo da
perda EU, por outro temos o medo do
risco. Risco que nos coloca diante de uma abertura e que muitas vezes não
queremos vivenciá-lo. É mais fácil ter uma atitude acomodada ou mesmo acreditar
que já nascemos com uma essência pré-determinada, pois, assim, não há o que
mudar e muito menos conviver com uma possível derrocada emocional. Torna-se
então mais fácil a acomodação, permanecer onde está para talvez evitar um
possível sofrimento no porvir. Contudo, acabamos criando dessa maneira um
paradoxo: controlar o incontrolável. A tentativa de controle já coloca em xeque
a própria existência, uma vez que exige um esforço tremendo da própria pessoa
para evitar qualquer contato com o risco, ao mesmo tempo em que ela abdica de
experimentar-se a si mesma e constatar pela própria vivência suas reais
possibilidades. Em suma, tal tentativa não a livra de um possível sofrimento indesejado,
mas, ao contrário, faz emergir noutro sofrimento, qual seja, a culpa. Culpa
pelo medo de não arriscar.
Então, realizo uma mudança pessoal
ou não, eis a questão? Qual seria o receio? Olhar para as possíveis perdas pode
ser uma forma de tirar o foco dos possíveis ganhos. O ser humano não nasce
pronto ou com uma essência pré-determinada. Somos seres humanos não porque
nascemos humanos, mas porque reunimos condições de transformação. Não apenas
transformação onde vivemos, mas, inclusive, como vivemos, quem somos. Somente
pela atitude que o ser humano pode conseguir um maior e melhor autoconhecimento
sobre si mesmo. Autoconhecimento que só podemos adquirir com o risco da
mudança, com a vivência de novas situações. Sendo assim, se você está com medo
ou dúvida se vale à pena criar uma mudança pessoal ou não, pense no motivo que
lhe impede. Talvez você possa se surpreender com a coleção de ideias ao próprio
respeito e não por vivências concretas realizadas. São essas vivencias que
podem lhe dar um melhor parâmetro ao próprio respeito, ou seja, até onde posso
ir; se consigo mesmo ou não. Lembrando também que tal parâmetro não define a
pessoa, pois somente a própria pessoa quem define seus fins, suas metas.
Para finalizar, gostaria de citar aqui o poeta Guimarães Rosa que dizia: “viver
é perigoso”. Entretanto, pelo meu modo de ver, mais perigoso ainda é deixar de
viver; deixar de arriscar; abrir mão de si mesmo; abrir mão da própria mudança,
uma vez que evoluir tem relação direta com mudanças que criamos na própria vida
e não pela manutenção de idealizações que acreditamos ter ao nosso próprio
respeito. Boas mudanças! Um grande abraço...