terça-feira, 12 de novembro de 2013

A essência como uma escolha

            O ser humano caracteriza-se por ser um animal curioso, que sempre busca conhecer e explicar tudo aquilo com que ele se relaciona. E é neste aspecto que ele se diferencia dos outros animais: a capacidade para dar sentido à própria existência. Sentido este expresso por escolhas realizadas – através da consciência reflexiva - que vão revelar ao mesmo tempo quem ele é, ou seja: sua essência. A cada escolha realizada, ele está escolhendo seu próprio ser. Daí todo ser humano ser consciente da própria escolha efetuada.
            Por outro lado, a curiosidade humana que tudo visa uma explicação pode incorrer num equívoco contra a própria espécie, qual seja: definir a condição humana. Definição que muitas vezes pode ser comparada a um objeto e a sua essência. Um objeto que seja foi idealizado por um artífice. Este partiu de um conceito ou ideia para sua construção, como por exemplo: uma cadeira. Sua finalidade ou essência já se encontra de antemão definida, pois, tal objeto, não pode escolher e nem modificar sua essência de cadeira. Será que o ser humano se encaixaria neste mesmo caso? Digo, ele já nasceria com uma essência pré-determinada sem ter a possibilidade de modificá-la? Se partirmos do pressuposto que a subjetividade humana não foi idealizada por nenhum artífice antes de vir ao mundo, mas sim que ela é desenvolvida a partir da relação sujeito/mundo, então não há como concebermos uma definição de qualquer ser humano, tampouco de sua essência. E por quê? Porque só quando o ser humano vem ao mundo é que ele tem a possibilidade de construir sua essência, pois, primeiro, ele deve existir para depois construir sua essência, uma vez que antes disso, ele é um nada, não existe. Se ele já trouxesse uma definição previamente elaborada – como alguns consideram –, não precisaria escolher qual atitude tomar, bastaria apenas que ele tivesse uma atuação em consonância com sua essência já estabelecida. Mal comparando: como se a pessoa possuísse uma essência de cadeira e funcionasse como tal.
            Mas ainda bem que a subjetividade humana não é um objeto, não é mesmo?! Ela é na realidade uma abertura perante o mundo e a si mesma. Perante o mundo: no sentido de que toda consciência precisa de um mundo para intencioná-lo, assim como o mundo necessita ser desvelado por uma consciência (postulado fenomenológico). A consciência desta feita está no mundo e não existe fora dele, pois, se assim fosse, a consciência seria um nada; não existiria e muito menos teria o que intencionar. E consciente de si mesmo: a pessoa pode transcender o fenômeno vivenciado para buscar uma compreensão da própria atitude. É a capacidade que ela tem para refletir o próprio ato, ou seja: num primeiro momento ela se encontra imersa na própria experiência (consciência irreflexiva); produz um determinado comportamento ainda não questionado. Isso não quer dizer que a pessoa não saiba o que está fazendo, ela sabe! O que ela ainda desconhece é motivo de fazê-lo. Este é o processo reflexivo: quando a pessoa volta sua consciência para o próprio ato estabelecido. Ela busca compreender – pela consciência reflexiva - os motivos que a levaram a ter tal comportamento. Alcançando sua compreensão, a pessoa cria a possibilidade para (re) construir sua essência. Contudo, a própria compreensão não é sinônimo de mudança, uma vez que a pessoa deve transformar o conhecimento adquirido em ato, ou seja: em escolha. É a partir da escolha que a pessoa constrói sua essência. E quando me refiro aqui à escolha, não se trata de uma escolha ao acaso, mas sim uma escolha responsável: a pessoa através da consciência reflexiva avalia e julga qual será a melhor escolha naquele momento. Lembrando que uma escolha efetuada não define sua essência, pois a qualquer momento a pessoa poderá mudar sua avaliação e fazer uma nova escolha. Portanto, é a própria pessoa quem escolhe seus fins e não uma suposta essência previamente elaborada que determinaria sua conduta. Sendo assim, o que você está esperando? O que você escolhe? Ser o agente da própria existência ou acreditar que é um objeto? Pense e faça sua escolha...