A essência como uma escolha
O ser humano caracteriza-se por ser
um animal curioso, que sempre busca conhecer e explicar tudo aquilo com que ele
se relaciona. E é neste aspecto que ele se diferencia dos outros animais: a
capacidade para dar sentido à própria existência. Sentido este expresso por
escolhas realizadas – através da consciência reflexiva - que vão revelar ao
mesmo tempo quem ele é, ou seja: sua essência. A cada escolha realizada, ele
está escolhendo seu próprio ser. Daí todo ser humano ser consciente da própria
escolha efetuada.
Por outro lado, a curiosidade humana
que tudo visa uma explicação pode incorrer num equívoco contra a própria espécie,
qual seja: definir a condição humana. Definição que muitas vezes pode ser
comparada a um objeto e a sua essência. Um objeto que seja foi idealizado por
um artífice. Este partiu de um conceito ou ideia para sua construção, como por
exemplo: uma cadeira. Sua finalidade ou essência já se encontra de antemão definida,
pois, tal objeto, não pode escolher e nem modificar sua essência de cadeira.
Será que o ser humano se encaixaria neste mesmo caso? Digo, ele já nasceria com
uma essência pré-determinada sem ter a possibilidade de modificá-la? Se
partirmos do pressuposto que a subjetividade humana não foi idealizada por
nenhum artífice antes de vir ao mundo, mas sim que ela é desenvolvida a partir
da relação sujeito/mundo, então não há como concebermos uma definição de
qualquer ser humano, tampouco de sua essência. E por quê? Porque só quando o
ser humano vem ao mundo é que ele tem a possibilidade de construir sua
essência, pois, primeiro, ele deve existir para depois construir sua essência,
uma vez que antes disso, ele é um nada, não existe. Se ele já trouxesse uma
definição previamente elaborada – como alguns consideram –, não precisaria
escolher qual atitude tomar, bastaria apenas que ele tivesse uma atuação em
consonância com sua essência já estabelecida. Mal comparando: como se a pessoa
possuísse uma essência de cadeira e funcionasse como tal.
Mas ainda bem que a subjetividade
humana não é um objeto, não é mesmo?! Ela é na realidade uma abertura perante o
mundo e a si mesma. Perante o mundo: no sentido de que toda consciência precisa
de um mundo para intencioná-lo, assim como o mundo necessita ser desvelado por
uma consciência (postulado fenomenológico). A consciência desta feita está no
mundo e não existe fora dele, pois, se assim fosse, a consciência seria um
nada; não existiria e muito menos teria o que intencionar. E consciente de si
mesmo: a pessoa pode transcender o fenômeno vivenciado para buscar uma
compreensão da própria atitude. É a capacidade que ela tem para refletir o
próprio ato, ou seja: num primeiro momento ela se encontra imersa na própria experiência
(consciência irreflexiva); produz um determinado comportamento ainda não
questionado. Isso não quer dizer que a pessoa não saiba o que está fazendo, ela
sabe! O que ela ainda desconhece é motivo de fazê-lo. Este é o processo
reflexivo: quando a pessoa volta sua consciência para o próprio ato
estabelecido. Ela busca compreender – pela consciência reflexiva - os motivos
que a levaram a ter tal comportamento. Alcançando sua compreensão, a pessoa
cria a possibilidade para (re) construir sua essência. Contudo, a própria compreensão
não é sinônimo de mudança, uma vez que a pessoa deve transformar o conhecimento
adquirido em ato, ou seja: em escolha. É a partir da escolha que a pessoa constrói
sua essência. E quando me refiro aqui à escolha, não se trata de uma escolha ao
acaso, mas sim uma escolha responsável: a pessoa através da consciência
reflexiva avalia e julga qual será a melhor escolha naquele momento. Lembrando
que uma escolha efetuada não define sua essência, pois a qualquer momento a
pessoa poderá mudar sua avaliação e fazer uma nova escolha. Portanto, é a própria
pessoa quem escolhe seus fins e não uma suposta essência previamente elaborada
que determinaria sua conduta. Sendo assim, o que você está esperando? O que
você escolhe? Ser o agente da própria existência ou acreditar que é um objeto? Pense
e faça sua escolha...