terça-feira, 4 de junho de 2013


Conectado ou desconectado?

            Penso que o momento que estamos vivenciando em relação ao desenvolvimento tecnológico, em particular, das novas mídias, seja estupendo e, ao mesmo tempo, inovador. A humanidade contemporânea vem criando ferramentas que tem facilitado o nosso cotidiano e por que não dizer também, afetando nas nossas relações interpessoais. Dentre as diversas ferramentas da informação desenvolvidas, sem sombra de dúvida, a internet é soberana. Ela de fato trouxe uma nova perspectiva na maneira como obtemos informação. A informação antes restrita, agora ganha uma notoriedade globalizada. Sem falar na célere como ela também viaja. O ser humano assim passou a estabelecer uma nova maneira de se relacionar, ou seja, passou a ficar conectado numa rede. O ciberespaço tornou-se não só um local para obter informação, mas também uma espécie de point de “encontro” entre as pessoas. A internet assim transformou a humanidade ou seria a humanidade que vem transformando a maneira como utiliza a internet?
            Antes que você pense que sou contra internet e que deveríamos voltar ao tempo das cavernas - que não é o caso -, digo-lhe que a internet é uma ferramenta maravilhosa e de extrema importância. Meu convite, caro leitor, é para refletirmos juntos acerca da maneira como ela vem sendo utilizada pela humanidade, ou melhor, dizendo, por algumas pessoas. Você já pensou no seu motivo de utilizá-la? Creio que seja importante sabermos o motivo de fazer alguma coisa e não simplesmente “fazer por fazer” como muitos talvez pensem. Na realidade, são pessoas que estão ininterruptamente conectados à internet, mas desconectados de si mesmos. Elas sabem que estão na rede – como milhares estão -, mas desconhecem o próprio sentido de estarem conectadas. Quem sabe elas busquem por algo ou por alguém, mas talvez não saibam o que de fato estão procurando. Como se quisessem aplacar um vazio, uma solidão ou mesmo o medo de ficar sozinho (a).  A internet, nesse sentido, pode ser usada com como uma mídia de “encontro”. Por outro lado, pode também denunciar uma solidão ou mesmo uma fuga. Quando me refiro à fuga, faço menção à fuga de si mesmo, dos seus próprios pensamentos, das suas angústias e dos seus temores. Será que você utiliza a internet para não se sentir solitário? Para talvez fugir de si mesmo? Pensar a respeito, não quer dizer que você deixará de utilizá-la, mas sim, que você estará ampliando sua consciência na utilização de tal ferramenta E ser autoconsciente, é exercer sua liberdade, é não permitir-se diluir no “todo mundo”.
            Outro aspecto que gostaria de levantar aqui, é a vinculação equivocada que muitos fazem da internet com o adquirir conhecimento. A internet é uma mídia da informação e não do conhecimento como muitos acreditam. E informação, é totalmente diferente de conhecimento. O conhecimento é seletivo e reflexivo. A pessoa filtra o que deseja conhecer e busca pensar a respeito da sua escolha. A informação, por outro lado, é mais cumulativo. A pessoa nem precisa pensar a respeito do que está acessando. Como se ela (pessoa) estivesse apenas armazenando informações e mais informações, sem, no entanto, refletir acerca das mesmas. Você já pensou nisso? E você, seleciona o que deseja buscar na internet ou segue o fluxo do “acessar tudo”, “assistir tudo”?
É tanta informação que podemos naufragar ao invés de navegar. Nossa! Isso me lembrou o filósofo Mario Sergio Cortella, que no seu livro Não nascemos prontos! : Provocações filosóficas, aborda numa de suas pensatas o risco que corremos na maneira como utilizamos essa magnífica ferramenta. Ele chega a utilizar a famosa obra literária de Lewis Carol, Alice no país das maravilhas, para fazer uma alusão ao risco do naufrágio que podemos sofrer. Trata-se de dois personagens que expressam os tempos de hoje: um coelho – como nós – sempre com pressa, correndo e olhando o relógio a todo o momento e lamuriando: “estou atrasado, estou atrasado”; o outro, é um insólito gato que, numa árvore, tem o corpo que aparece e desaparece, em certos momentos aparece à cauda, e em outros o seu sorriso. O diálogo entre Alice e o gato é o ponto alto e que foi bem adaptado pelo filósofo: Alice, perdida, pergunta: “Para onde vai esta estrada?”. O gato responde: “Para onde você quer ir?” Ela fala: “Não sei; estou perdida”. O gato não pensa duas vezes e diz: “Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve...”
Interessante esse diálogo, não lhe parece? Pois é... Podemos incorrer nessa armadilha quando sentamos diante da tela do computador e navegamos na internet, ou seja, de não termos compreensão daquilo que desejamos acessar e, por conseguinte, acabamos acessando “tudo” que aparece.  No final das contas, acessamos um “nada” que não queríamos. Pense nisso... E antes de usufruir dessa maravilhosa ferramenta tecnológica, conecte-se consigo mesmo, procure perceber-se na sua escolha, pois, do contrário, você corre o risco de estar conectado (internet) e desconectado (de si mesmo). O resultado? Talvez uma sensação de vazio que, no dia seguinte e no próximo, você queira preencher a cada vez que estiver sentado de frente para a tela do computador. Portanto, navegue na internet, mas saiba pelo que você procura. Acredito que pela autoconsciência você saberá aonde quer chegar, não achas? Um forte abraço...