quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Artigo da psicoterapeuta Tereza Erthal (2a parte)

   Existencialismo na Psicoterapia:

  Esta abordagem é baseada na compreensão do cliente como uma totalidade; os fatos particulares nada significam. O objetivo é descobrir as mediações para compreender o individuo concreto singular. Procura compreendê-lo como criador do seu mundo e de si mesmo. Assim, detectando os padrões comportamentais, chegamos ao projeto original pelo qual o individuo se faz uma pessoa. O individuo se define por seu projeto, por ser capaz de fazer e desfazer o que fizeram dele. O objetivo é decifrar os comportamentos empíricos do individuo, isto é, dar luz às revelações que cada um deles contem .”( Erthal,2010,p.210) Seu ponto de partida é a experiência; seu ponto de apoio é a compreensão pré-ontológica e fundamental que o homem tem da pessoa humana. Tenta descobrir, de forma rigorosamente objetiva, a escolha subjetiva pelo qual uma pessoa se faz uma pessoa. Para tal, usa um método comparativo e descritivo, o método fenomenológico, como um meio de compreender a realidade transformada em uma atitude terapêutica fundamental. Cada conduta simboliza a escolha fundamental e, ao mesmo tempo, cada uma delas esconde esta eleição sob seus caracteres ocasionais e sua oportunidade histórica, de forma que é pela comparação delas que chegaremos à revelação do que elas expressam..
   Como a vivência é o ponto mais importante deste trabalho, a ênfase só pode estar no momento presente. A concepção é do tempo dinâmico: o presente não é estático, já que contem o passado e o futuro enquanto percebidos pela pessoa. A grande importância da presença do terapeuta está em que ele espelha as intenções de seu cliente; descreve seu experienciar conforme expresso na relação. O terapeuta é a testemunha ocular do compromisso que o cliente passa a estabelecer consigo mesmo. Entre ambos existe uma ligação fundamental e nela se manifesta uma modalidade de presença do outro irredutível ao conhecimento que se tem do objeto. “O outro é, por principio, aquele que me olha.” Sartre(1945,p.315) Este olhar remete o cliente a si mesmo.
       A compreensão empática é o pilar do encontro terapêutico. Possibilita a percepção do sentido concreto e vivencial do mundo pessoal que o cliente se atribui, permitindo a compreensão molar de seu discurso. Não há uma analise reflexiva ou mediações lógicas, mas a percepção sintética e imediata do vivido pelo cliente. A empatia é essa comunhão afetiva na qual um se coloca no lugar do outro para perceber o seu mundo fenomênico... A autêntica redução fenomenológica se faz possível pela compreensão empática... (Erthal,2010,p.216)  Inicialmente, o terapeuta permite que parte de si se torne o cliente. Depois,constrói um modelo para o cliente,uma replica de suas observações e insights e transforma as palavras do cliente em imagens e sentimentos de suas lembranças e expressões. Sua atenção está focada naquilo que o cliente provoca nele através de suas expressões verbais e não verbais...(Erthal,p.217)
   A cura é a aceitação da condição humana (conjunto de limites que informa a nossa situação no universo), que é o surgimento do ser no nada. É encontrar em si mesmo os valores, é não fugir da liberdade como tal, nem deixar-se escorregar pela desculpa da essência. De posse do seu auto-conhecimento, o cliente se faz consciente daquilo que deseja modificar em si mesmo, pois se sente com capacidade para tal,seja mudando o seu projeto, seja usando outras maneiras de ser para realizá-lo.
  “As contribuições nucleares desta filosofia podem ser descritas como liberdade, escolha, risco, angustia, culpa, etc, como expressões de uma compreensão de si (em Kierkegaard), como expressão de uma busca de uma filosofia da existência (Heidegger e Jaspers), e como preocupação de analisar a pessoa concreta e única (Sartre).( Erthal,2010,p.205)
   Como expressões da aplicação deste pensamento à pratica clinica, encontramos L. Binswanger, M.Boss, E. Minkowisky,V. Frankl, R. Laing. Rollo May introduziu estes autores nos Estados Unidos, mas esta importação sofreu uma aclimatação aos valores da cultura americana já embebidas nas idéias humanistas.
   Não podemos dizer que exista uma única terapia existencial, mas varias formas de colocar seus pressupostos em prática. Assim como na filosofia existe uma unidade nas aparentes divergências, nas diversas modalidades de terapia existencial isso também ocorre. A diferença radica na forma como o terapeuta compreende o processo e o centraliza na prática.  Binswanger define terapia como “um tipo antropológico de investigação cientïfica, isto é, em que está dirigido à essência do ser humano” (1958,p.191)Utiliza-se da conceitualização heideggeriana. Yaloom nos fala do confronto do individuo com os dados da sua existência que, para ele,  constitui o conflito dinâmico existencial. Uns se apóiam no conhecimento filosófico de Heidegger, outros em Kiekegaard, ainda que outros,  em Sartre.
A questão não está em qual filosofia é melhor, mas qual prática se ajusta mais a minha forma de enxergar o ser humano. Como Sartre mesmo diz, “Não importa muito aqui que exista a psicanálise existencial (como ele definiu); o importante para nós é que seja possível”. (1988,p.46)  

Referências bibliográficas:
        Binswanger,L. The Existential Analysis School of Thought. In: R. May et al,      Existence, New York, Basic Books, 1958.
Bornheim,G. A Vez do Leitor. In: Tereza Erthal, Contas e Contos na Terapia Vivencial,Petrópolis,Vozes Editorial,1992.
Erthal,Tereza. Trilogia da Existência. Curitiba, ed. Honoris Causa,2010.
Kierkegaard,S. Tratado dela desesperacion. Buenos Aires/Santiago, Rueda,1941.
Sartre,J.P. L’Être e tel Néant. Paris, Gallimard, 1943.
Sartre,J.P. La Transcendance de L’ego. Paris, Recherches Philosophiques,1936.



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