segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O aqui e agora

         Em certos momentos da nossa existência, podemos trazer à lembrança de algumas situações vivenciadas num passado. Situações que de forma concreta não existem mais. Mesmo assim, elas fazem parte da nossa história de vida; servem de registro das nossas vivências, como se fosse uma espécie de um álbum vivencial e, que em alguns casos, dependendo das vivências registradas, podem paralisar nosso caminhar pela vida. Como se aceitássemos nosso álbum como pronto e acabado. Não há mais nada para registrar, pois o medo pelo fracasso parece maior do que o desejo de produzir novas experiências. Um sentimento de incapacidade pode nos acometer e passamos então, a acreditar que os resultados passados determinarão os resultados futuros. Assim, escolhemos fechar o nosso álbum e guardá-lo.
            Noutra situação, vamos mentalmente ao futuro. Projetamos nossos ideais; fazemos planos de como gostaríamos de estar daqui a algum tempo. Pensamentos nesse aspecto podem surgir, como por exemplo: quando alcançar minha meta no futuro, aí sim, serei de fato feliz. Podemos aguardar tal situação acontecer num futuro longínquo, sem ter que necessariamente fazer alguma coisa no momento presente, pois, estabelecemos como idéia que a busca pela tal felicidade está num lá adiante. Portanto, desse modo, vivenciamos um futuro projetado, mas não nos colocamos como agentes produtores no presente para que esse projeto tenha possibilidade de realização. Como se ficássemos num compasso de espera pelo futuro idealizado para só depois desfrutar os louros da vitória. Poderíamos dizer que escolhemos ficar num momento que ainda não é para abdicar do momento em que sempre estamos, qual seja, o presente.
            Situações como mencionadas anteriormente podem acontecer em qualquer fase da vida de uma pessoa. Talvez, nós conhecemos algumas pessoas que já passaram por situações parecidas ou até mesmo pessoas que estão atravessando pelas mesmas. A questão é que tais situações remetem ao fator tempo. Tempo que é inerente a todo ser humano. Passado, presente e futuro são presenças constantes na nossa existência. Lembrar-nos de situações passadas e podemos sentir alegria ou tristeza. Também reunimos condições de projetar nosso futuro, como gostaríamos de estar daqui a algum tempo e, claro, procuramos imaginar o melhor para nós.
E quanto ao momento presente? Será que estamos cônscios da sua vivência? Se por um breve instante pararmos para perceber, poderemos nos dar conta que sempre estamos no momento presente. Quando lembramos duma situação vivida no passado, estamos lembrando com a nossa presença no aqui e agora. Quando projetamos nosso futuro, projetamos também com nossa presença no aqui e agora. Estamos sempre presentes!
Partindo do pressuposto que estamos sempre no momento presente, que a psicologia existencial procura desenvolver seu trabalho junto ao cliente. Nossa proposta é fazer com que o cliente vivencie as situações trazidas do passado ou projetadas visando um futuro para o aqui e agora. Sendo que essa vivência é transformada pelo próprio cliente em sentimento. Acreditamos que a possibilidade do cliente entrar em contato com o sentimento vivenciado no aqui e agora poderá fazer com que ele tenha uma melhor compreensão ao próprio respeito. Compreensão não dos porquês de tais comportamentos, mas sim, dos motivos que levam o cliente a ter certas atitudes. Entendemos que explicações racionais não propiciam transformação. Uma vez que tal posicionamento intelectual distancia o cliente da sua própria vivência, faz com que ele não se identifique com sua experiência. Que para a psicologia existencial ocorre num primeiro momento por intermédio do sentimento. Pelo sentimento que inicialmente estabelecemos nossos encontros, só depois é que colocamos nossa posição racional a respeito.
Na psicologia existencial, o cliente tem a possibilidade de expressar seu sentimento em relação à vivência que ele escolhe trazer, seja do passado ou mesmo dum futuro. Como nas situações exemplificadas inicialmente: procuraremos compreender os motivos do cliente pelo abandono na construção do seu álbum vivencial e não na busca de causas pela sua interrupção. Na ida ao futuro, queremos compreender os motivos que levariam ao cliente vivenciar apenas o futuro e, não em buscar causas para explicá-las, pois, cabe ao próprio cliente desenvolver sua própria interpretação. Afinal de contas, a vivência pertence ao cliente. Ao terapeuta, cabe compreender como o cliente compreende seu mundo para auxiliá-lo. Para que o cliente possa se perceber por intermédio do terapeuta e, então, ampliar sua consciência acerca do próprio comportamento. Quando ele, cliente assume a responsabilidade pela própria vivência e compreende junto com o terapeuta seus próprios motivos, ele estará mais cônscio da sua presença no aqui e agora e assim, criar condições no momento presente para fazer uma autotransformação.

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