‘ Dança das cadeiras’
Querido leitor (a), a inspiração para escrever este texto surgiu
primeiramente no ano passado, quando na época estava ouvindo um
programa na rádio. Este abordava sobre o posicionamento do homem e
da ‘nova’ mulher na relação de casal nos dias de hoje. O
programa falava principalmente da tomada de decisão da mulher para
conquistar seu espaço. Tomada esta que fez a mulher ficar em ‘pé
de igualdade’ com o homem – se é que posso dizer assim, pois a
nossa sociedade continua sendo machista mesmo com um discurso tido
como democrático. Bem, falarei sobre isso depois. A questão é que,
mesmo aos ‘trancos e barrancos’, a mulher foi conquistando seu
espaço. Tanto que, sua presença não é mais surpresa em diversos
seguimentos sociais – haja vista nossa presidenta - que antes só
poderiam ser ocupados pelos homens. E aqui, eu já lanço as
primeiras questões: a mulher teria conquistado seu espaço ou
estaria se sobrecarregando em diversas tarefas (dentro e fora de
casa)? E até que ponto tais conquistas afetam, hoje, numa relação
de casal? Esta pergunta talvez faça o homem tremer nos seus
alicerces, pois... onde ele está? Quem sabe, descansando no ‘berço
esplêndido’ das antigas normas sociais. Talvez.
A outra inspiração veio a partir de uma conversa com uma amiga,
numa festa. Falávamos, melhor dizendo, ela falava da dificuldade de
alguns homens (ainda bem que nem todos) se relacionarem com essa
‘nova mulher’. Afinal de contas, a mulher, hoje, não precisa
ficar à mercê do homem como acontecia outrora, ou seja: quando ela
ficava subjugada às normas e regras impostas por um social
caracteristicamente machista. Por outro lado, o homem nem precisava
lutar por nada, pois o seu espaço já se encontrava pré-determinado:
o provedor da família. E hoje? Qual a posição dele? Parece que ele
ficou ‘ sem pai e nem mãe’ nessa ciranda. Seu espaço foi
sucumbido, já que muitas mulheres tornaram-se mantenedoras das suas
respectivas famílias. E o homem? ‘Assistindo de camarote’?
Alguns até estão – a priori – correndo atrás ou pelo
menos tentando: cuidam da casa, da educação dos filhos e até estão
mais preocupados com a própria estética (atribuição esta que era
anteriormente exclusividade da mulher). A impressão que temos, é
que o homem está buscando um novo posicionamento, ‘correndo
atrás’, ‘ralando’ para alcançar seu espaço que ficou aberto.
E aberto, diga-se de passagem, pelo próprio desejo da mulher em
conquistar o seu próprio espaço. A dúvida que persiste é: seria
uma conquista ou acúmulo de atribuições? Quanto ao homem, parece
que está num labirinto sem saber exatamente quem ele é e muito
menos se vai encontrar uma saída.
Diante dessa ‘dança das cadeiras’, onde os espaços não podem
ser mais guardados, homens e mulheres, ou melhor, seres humanos - os
relacionamentos não se restringem apenas às relações homem/mulher
- estão passando por uma espécie de ‘retorno de Saturno’, no
qual transformações são iminentes e necessárias. E como toda
transformação não passa em vão, ou seja: sofremos pela própria
mudança até de fato fazê-la, haja vista que saímos de algo
conhecido para adentrarmos no desconhecido. O que os seres humanos
estão construindo? Mulheres reclamam que estão sobrecarregadas
(trabalham dentro e fora de casa). Seria o preço da emancipação?
Ou o homem não quer abrir mão da sua posição antes determinada?
Enquanto isso, os homens reclamam que as mulheres agora são
autossuficientes, que elas não precisam mais de um homem ao seu
lado. Será?! Penso que não é bem assim. Elas querem sim! Mas
querem um companheiro ao seu lado. E aí precisamos (homens e
mulheres) superar-nos a nós mesmos. Algo similar à proposta
nietzschiana do Übermensch ou o super-homem: criar uma nova ordem,
uma nova lei e com isso quebrar os grilhões de condutas engessadas
como: ‘o homem faz isso e a mulher faz aquilo’. No meu modo de
ver, não há demérito algum nas conquistas das mulheres e muito
menos na busca do homem por um novo homem. Lembremos que nessa ‘dança
das cadeiras’ o mais importante não é quem vai ficar sentado e
sair vencedor, até porque o vencedor (a) ficará sozinho sentado
numa cadeira, mas sim que devemos reconhecer nossas possibilidades
para versatilidade (fugirmos da normatização: o que é atribuição
de homem e o que é atribuição de mulher) e passarmos a estar com
este outro pelo simples desejo de trocar, de amar e ser amado. E que
para tal, não precisamos estipular atribuições prévias.
Precisamos sim, nos colocarmos como companheiros. Companheiros na
acepção da palavra: “aquele que acompanha”, “aquele que tem
solidariedade”. Portanto, o que importa não é o papel do homem e
da mulher dentro de uma relação de casal, mas sim a cumplicidade
que ambos podem construir. Utopia? Pode ser, mas não custa tentar. E
talvez o grande desafio esteja nas mãos do homem, uma vez que ele
ainda vive sob a égide de uma sociedade machista. Será então que
‘o feitiço virou contra o próprio feiticeiro?’ Um grande
abraço...