sábado, 11 de fevereiro de 2012

Responsabilidade

            Provavelmente, você escolheu casar ou não; seguir um partido político, quem sabe; ter uma religião ou mesmo ser ateu; trabalhar numa empresa ou como profissional liberal. Todos são exemplos de possíveis escolhas que você pode ter feito ou ainda pode fazê-lo um dia na vida. Parece simples, não é mesmo, você escolhe entre isso ou aquilo e pronto. Como se você não tivesse nenhum compromisso com a escolha efetuada.
Na visão existencialista, todo ser humano é responsável pelas escolhas efetuadas. Não existe uma escolha descompromissada da própria pessoa. Como Sartre sabiamente disse: “[...] Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é [...]” (SARTRE, p.12,1973). Sendo assim, você e cada ser humano em qualquer época são responsáveis por cada escolha, uma vez que cada ato de escolher passa pela subjetividade. Mas talvez você possa estar pensando, por exemplo: não escolhi perder meu emprego? A empresa que trabalhava findou, não foi minha responsabilidade. Sim, um ato externo a nós não tem como ser controlado, mas o que fazemos com tal circunstância, sim. A subjetividade faz parte da condição humana e não das coisas ou fatos. Daí o peso da responsabilidade pela escolha, da postura que a pessoa vai tomar em relação ao ocorrido. Ela pode enfrentar a situação mesmo sendo difícil ou fugir da mesma. Ambas são escolhas e ambas são de inteira responsabilidade da própria pessoa.
A questão sine qua non para o existencialismo é fazer com que a pessoa reconheça sua responsabilidade no mundo. Cada escolha que realizo na vida, sou EU quem decide. Faço parte dessa escolha, afinal de contas, minha escolha passou por um critério de avaliação pessoal, particular, ou seja, pela minha subjetividade.
Tal proposta existencialista pode soar para muitos como algo assustador. Imagine então, não importa o que aconteça comigo, EU é quem devo e tenho a obrigação de fazer alguma coisa? Estaria assim desprotegido no mundo? À mercê do que pode acontecer comigo? Você pode querer sumir diante de tais indagações, é uma escolha. Mas na realidade, nós, existencialistas, queremos de fato afirmar a subjetividade humana e sua capacidade para criação de saídas. Visto que, do momento que impelimos uma ação, estamos criando algo e não esperando que este apareça por algum merecimento divino ou um destino. Não estamos falando duma ação qualquer, mas sim, uma ação responsável, pois você está (re) criando a si mesmo. Somente você pode escolher qual construção quer fazer de si mesmo. Talvez, seja essa a visão considerada por alguns como assustadora na proposta existencialista, qual seja, de que você é o único que pode fazer alguma coisa. Muitos questionam tal capacidade humana diante de algumas circunstâncias vivenciadas. Claro que certos fatos podem ser duros de encarar, não estamos dizendo que devemos negar que tais situações podem nos acometer, pelo contrário, devemos afirmá-los para que possamos criar soluções. Como mencionamos anteriormente, não podemos interferir nos fatos vindouros, mas podemos, responsavelmente, interferir na forma como nos relacionamos diante do que ainda não é. Lembrando que para ser, algo ou situação, precisa estar relacionado com uma subjetividade. Como, por exemplo, num jogo de cartas: não sabemos as cartas que virão para nossas mãos até recebê-las. Só do momento que estamos com elas em mãos é que poderemos avaliá-las como sendo boas ou não. Mesmo assim, isso não impede de continuarmos jogando, pois a capacidade de quem está jogando na maioria das vezes prevalece mais do que a posse das cartas consideradas boas para vencer um jogo. Possuí-las, não quer dizer que o jogo já está ganho, mas saber como usá-las poderá determinar um possível caminho para vitória.
  Portanto, tal proposta existencialista como alguns equivocadamente pensam não é assustador ou pessimista, mas sim, extremamente positivo, uma vez que colocamos nas mãos de quem é de direito a responsabilidade pelas próprias escolhas. Escolhas estas que podem ser modificadas a qualquer momento. Afinal de contas, a subjetividade é uma abertura e não algo pré-determinado ou definido. Mas e quando a pessoa não quer aceitar isso? Que ela deve construir a si mesma e reconstruir-se a cada momento. Nomeamos tal atitude de má-fé - seria uma tentativa de a pessoa fugir da liberdade e responsabilidade que ela é - da qual versaremos no texto a seguir.


Referência Bibliográfica:

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Coleção os pensadores; 1ª edição; São Paulo; Abril Cultural; 1973.