quinta-feira, 16 de março de 2017

NEM TODA ESCOLHA É SÁBIA

Quem já não ouviu essas frases: “viver é fazer escolhas” ou “a vida é feita de escolhas.” São frases que soam como um clichê, mas que no fundo trazem um quê de concretude na vida. Digo, são frases que corroboram para a nossa condição diante da vida e das circunstâncias. Por conta disso, a todo o momento somos confrontados com situações que muitas vezes não sabemos qual caminho tomar e pior, podemos cair na teia da ilusão que tudo vai se ajeitar com o passar do tempo: o tempo passa e nada se modifica. 
Se partirmos da premissa de que não podemos deixar de escolher, então como poderíamos fazer uma escolha correta. Espera aí!  Escolha correta?! Não existem escolhas corretas. O que existem são escolhas. Como poderíamos saber de antemão se uma escolha é correta ou não? Não podemos, pois precisamos vivenciar tal escolha para dizer se foi benéfica ou não, ou seja, é apenas pela vivência que poderemos chegar numa conclusão da nossa escolha. Diante disso, podemos pensar que toda escolha tem um motivo de ser, uma intencionalidade, como diria o filósofo Edmund Husserl. Mas e no caso de uma pessoa escolher um caminho considerado tortuoso ou complicado? Como por exemplo, usar drogas. Não seria uma escolha errada? Não digo errada, mas sim uma escolha diante de situações que essa pessoa não está dando conta e que ela não está sabendo como lidar. A sua alternativa é uma escolha para tentar sobreviver frente às dificuldades que ela mesma não está conseguindo suportar. E ela não está fazendo isso de maldade, mas pelo motivo dela não saber o quê fazer no momento. Diríamos que seja uma espécie de escolha contra si mesma. E claro, pra quem olha de fora, é fácil rotular essa atitude como sendo de uma pessoa fraca e que não consegue lidar com situações adversas. E não é o caso, ela está tentando, só que a sua escolha não é a mais sábia do mundo, mas, mesmo assim, ela não deixa de ser uma escolha.
O que ela está dizendo é: estou tentando sobreviver nesse mundo tão complicado e que não estou sabendo como fazê-lo. Em suma: ela está pedindo ajuda e não uma nosologia ou rótulo. Sua escolha é uma tentativa de manter-se viva, presente na vida, só que o preço dessa escolha é caro demais. Ela escolhe o que pode no momento ou o que ela considera como suportável. E nesse caso, o problema em si se torna algo secundário, o foco passa a ser a pessoa na relação com um problema e que acaba afetando na sua escolha: se ela escolhe dormir em excesso, por exemplo, é uma escolha pela dificuldade de lidar com algo no mundo desperto ou acordado.

Então, qual seria a escolha já que não existe uma escolha correta? Devemos escolher a nós mesmos. Quando digo isso, refiro-me a escolha pela nossa percepção de como fazemos, como atuamos, ou seja, qual o motivo deu fugir de certas situações ou confrontos. Na realidade, não fugimos das situações, nós fugimos de nós mesmos, das nossas dificuldades e de encará-las de frente. É mais fácil dizer que somos assim mesmo ou já nascemos pré-dispostos para tal comportamento: se estou pronto ou definido, não preciso fazer nada para mudar. Afinal de contas, sou algo pronto, com função previamente estabelecida. E convenhamos, todo se humano não está pronto ou acabado, mas sim em construção, em abertura para a vida. Por isso, cabe a ele compreender sua dificuldade que leva à sua escolha como uma tentativa de burlar a si mesmo. Lembrando que essa compreensão ainda não se configura como uma mudança, uma vez que a pessoa pode compreender e escolher manter-se alheia de si mesma, ou seja, ela reconhece onde precisa mudar, mas tem dificuldade para fazê-lo. E isso deve ser trabalhado. Portanto, um bom caminho é a compreensão, mas uma escolha saudável é a ação diante da sua própria dificuldade. É a ação – que é uma escolha – que modifica sua postura perante a vida e, principalmente, a si mesmo.  

sábado, 2 de julho de 2016

 Mais uma vez... e mais uma vez...

            Muitas pessoas expressam o desejo de mudança na vida. Vida que talvez esteja numa mesmice ou mesmo sem nenhum sentido. Daí a tal vontade de mudar alguma coisa, mas, em muitos casos, sem saber exatamente o porquê e o quê mudar. Mas, mesmo assim, elas carregam uma aparente convicção: a vida como está, não está valendo à pena. Algo precisa ser feito. Mas o ponto é: o quê?
            Por outro lado, esse ávido desejo pela mudança do ‘sei lá o quê’, carrega implicitamente o término do já conhecido e a entrada no desconhecido ou o novo. Eis aqui instalado o dilema existencial: abandonar o conhecido, o que de certa maneira está dominado (mesmo sendo este ruim) e que não precisamos despender nenhum suor, pois, este, está consumado, pronto ou ariscar todas as fichas numa nova senda? Esta desconhecida, sem controle e que nos convida para vivenciarmos o que ainda não sabemos se vai dar certo ou não. Difícil, não é? O que seria mais difícil então: abrir mão do conhecido ou entrar no desconhecido? Dar adeus ao velho ou dar às boas-vindas ao novo? Se partirmos do pressuposto que todo ser humano busca por certa adaptação, certo hábito e por que não dizer ritual na sua vida, então abrir mão do conhecido é muito mais complicado do que ariscar-se no desconhecido, até porque o desconhecido ele ainda não conhece, por isso do nome. Ele até pode imaginar uma situação hipotética, mas ele não tem nenhuma garantia se de fato vai acontecer mesmo ou não. E por conta disso, o novo ou desconhecido perderia sua função. Afinal de contas, ele está lá adiante, longe de onde estamos e qualquer coisa que possamos imaginar ou desejar relacionado a ele, é uma mera especulação.
            Bom, parece que chegamos numa posição: o conhecido é mais difícil de ser abandonado do que a entrada no desconhecido. Mas espere! Não devemos ir tão depressa assim, pois agora uma nova questão emerge: como podemos abandonar o que já conhecemos? Melhor dizendo: como podemos abandonar quem supostamente já “conhecemos”? Esta talvez seja a maior dificuldade: acreditamos que somos nossos hábitos ou o que já “conhecemos” de nós mesmos. A possibilidade de abrirmos mão de quem somos causa um grande incômodo e medo. Algumas pessoas podem até pensar: é melhor ficarmos na posição que já conhecemos, pois temos o controle de nós mesmos e assim não nos sentiríamos ameaçados. Contudo, só podemos efetuar uma mudança quando abandonamos àquilo que não serve mais, que não cabe mais em nós mesmos, ou seja, o que já conhecemos. Devemos deixá-lo partir, pois, do contrário, não abriremos a possibilidade do desconhecido. Se temos que fazê-lo, então por que é tão difícil? Porque estaríamos nos perdendo de nós mesmos. Estaríamos entrando em contato com o vazio que habita em nós. Estaríamos entrando em contato com o nosso próprio abandono, entenda isso como despedindo-nos dos nossos hábitos e comportamentos. Só tem um detalhe: não somos os nossos hábitos ou comportamentos. Somos os seus construtores, mas não precisamos nos colocar à mercê das nossas construções. Na realidade, somos um vir-a-ser em busca de uma construção que deve ser feita e vista como temporária ou atemporal. Daí não precisar chegar a algum lugar ou num porto seguro. Basta reconhecermos nossa condição de seres em constante construção, por se fazer. A (re) construção é o sentido do ser. Portanto, diga adeus para o velho, para o já “conhecido”, mesmo que com medo, mesmo que trêmulo, pois, qualquer mudança que queiras fazer, só poderás fazê-la com o consentimento da sua própria morte. Morte aqui representada não de forma literal, mas no sentido similar ao mito da Fênix: aquele pássaro que percebendo a iminência da sua própria morte se consome em chamas para então renascer das próprias cinzas. Que possamos – assim como a Fênix - consumir-nos nas nossas próprias construções para renascermos numa nova condição, numa nova roupagem. E que assim seja. Mais uma vez... e mais uma vez...




quinta-feira, 3 de setembro de 2015

“Recriar” ou “Rever”?


            A inspiração para escrever este pequeno texto veio de um querido amigo que respondendo – de maneira bem humorada – uma colocação minha quanto à proposta da psicologia, levantou o seguinte questionamento: “a psicologia serve para que a pessoa recrie sua vida ou para ela rever a mesma”? Naquele momento respondi de chofre que a psicologia serve para que a pessoa recrie sua vida, pois, não sendo assim, para quê a pessoa procuraria um psicólogo? Rever o passado para ter uma explicação plausível do seu momento presente?! Bem, gostaria de ampliar um pouco melhor minha resposta dada para meu grande amigo. É claro que todo ser humano carrega sua história, não há como negá-la. Aliás, ele não só carrega o passado, mas também a possibilidade do porvir e, principalmente, o momento presente. Este, no meu entender, o momento mais importante e produtivo, pois é apenas no instante presente que o ser humano pode efetivamente fazer alguma. O passado assim serve como um álbum das suas vivências e o futuro uma abertura que pode ou não se concretizar. Então rever o passado não teria nenhuma importância? Não é bem assim. Como disse antes, o ser humano é um ser histórico e por conta dessa historicidade que ele se reconhece como um ser atuante no mundo. Rever o passado não é o problema. A questão é como ocorre essa revisão, uma vez que pessoa pode valorizar suas conquistas alcançadas ou petrificar-se na lamúria dos feitos não realizados. De qualquer maneira, é a própria pessoa quem escolhe como vai vivenciar o seu passado. Passado este – diga-se de passagem - sempre vivenciado no instante presente. E é neste aspecto que o “rever” pode contribuir para um “recriar”, ou seja, o sentimento presente no contato com as reminiscências passadas abre a possibilidade para uma nova visada, e nessa abertura que a pessoa pode escolher “recriar” sua história. Não estou falando aqui em mudança do passado, não se pode mudá-lo, mas sim mudança da própria pessoa no presente: o sentimento expresso pela vivência da situação passada servirá para ela repensar o seu momento presente. Em outras palavras, é por intermédio desse sentimento expresso no aqui e agora que a pessoa poderá alcançar uma melhor compreensão de si mesma. Compreensão esta que abre a possibilidade para ela recria-se a si mesma. Portanto, um “recriar” a partir de um “rever”, mas, acima de tudo, um “recriar” a partir da liberdade que ela é. Um re-criar a partir da sua própria escolha (ação). Um grande abraço...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A terapia realmente ajuda?

            Afinal de contas, fazer terapia traz algum benefício para pessoa? Quantas pessoas já se fizeram essa pergunta antes de procurá-la. Aliás, a pergunta é deveras pertinente, visto que a pessoa que busca pela primeira vez a terapia, não sabe o que de fato pode ou não mudar na sua vida. Na grande maioria dos casos, a procura ocorre por uma situação específica: perda, dificuldade no relacionamento amoroso, medo, dentre outras. O certo é que alguma coisa aconteceu, fez com que a pessoa fosse buscar uma ajuda. Em outras palavras, ela não está sabendo como lidar com tal situação. Ela não está conseguindo entrar em contato consigo mesma. A vida parece que perdeu o sentido ou algo do gênero, daí sua procura por uma terapia. Mas que tipo de ajuda ela pode ter? E como ela pode reconhecer seus benefícios?
            Iniciar um processo terapêutico muitas vezes não é nada fácil. Ainda mais que a pessoa vai dividir seus problemas com outra pessoa até então desconhecida. E tal situação pode colocar em xeque o início da terapia, uma vez que se torna importante para a pessoa sentir-se acolhida pelo terapeuta. Por outro lado, cabe ao terapeuta aceitá-la nas suas dificuldades para que a própria pessoa também aceite a si mesma. Desta maneira, ela poderá entrar em contato mais direto consigo mesma. Não se trata de interpretação, mas sim de compreensão através da presença do terapeuta. Este “espelha” para a pessoa às emoções e os sentimentos captados na sua fala. É a própria pessoa quem vai compreender-se ao longo das sessões.

            Então a terapia pode ajudar? Claro que pode. Só tem um detalhe importante: não basta a pessoa compreender-se a si mesma e tudo muda. Terapia não é passe de mágica! A compreensão é o primeiro passo para uma possível mudança. Digo possível pelo simples fato de que qualquer compreensão que seja ainda não se configura como uma mudança, até porque a pessoa mesmo se compreendendo pode escolher manter sua conduta já conhecida. Torna-se então necessário o contato com o risco, pois, dessa maneira, ela poderá criar sua própria vivência. Vivência esta que amplia uma maior compreensão ao próprio respeito, ou seja: a cada situação que escolhe vivenciar, poderá, de fato, reconhecer-se no seu modo de ser. Assim, a experiência concreta passa a fazer parte da sua vida e o risco que antes era visto como uma ameaça, agora é aceito como condição para o seu desenvolvimento emocional. Portanto, a terapia pode ajudar, mas, antes de tudo, é preciso que a pessoa escolha se ajudar. É preciso AGIR para que seus benefícios sejam reconhecidos. Um forte abraço... 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Atendimento social em Albuquerque, Teresópolis-RJ. Pacote fechado por mês( quatro sessões). Para maiores informações entrar em contato:
Celular: (21)996356855 (vivo)
E-mail: solram@ig.com.br
Whatsapp: +55 21  996356855. 

domingo, 19 de outubro de 2014

O tempo não escolhe

     Hoje gostaria de falar sobre o tempo. Tempo que nos carrega desde nosso nascimento mesmo que nem saibamos. Sua presença é a nossa própria existência. Tempo que ficou para trás, no passado. Onde transportamo-nos em lembranças que nos convidam a rir ou a chorar - é a nossa história de vida. Tempo que nem temos ainda, mas que pela nossa imaginação podemos criá-lo. É aquele tempo que vislumbramos aspirações e projetos. É o que ainda não é: o futuro. E temos o tempo que considero como o mais precioso e que de certa maneira escorre por entre nossos dedos, ou seja: o momento. Momento que sempre nos convida para fazermos algo. Momento onde sempre estamos, mas que na maioria das vezes desdenhamos, pois acreditamos que ainda teremos uma nova chance no porvir. A questão é: será que teremos? E é exatamente sobre este tempo que gostaria de falar.
    Você já se deu conta que nunca estamos onde de fato devemos estar? Não estou me referindo a um lugar específico, não é isso, mas sim a nossa presença no momento. E parece tão complicado fazermos isso, pois freneticamente voltamos ao passado numa tentativa de lembrar os “bons tempos”, situações agradáveis que vivenciamos ou pessoas interessantes que passaram pela nossa vida. Quiçá isso não nos preencha, e lá vamos nós então para o futuro. Projetamos possibilidades que podem ou não se concretizar, uma vez que o porvir tem essa peculiaridade, qual seja: não haver garantias. Se o passado é um mero registro histórico inalterável e o futuro é uma abertura, uma possibilidade, então não há nada atrás ou na frente, somente o momento. Nele que efetivamente podemos e devemos fazer alguma coisa, já que a nossa atitude concreta só pode ocorrer no momento. E convenhamos, não reunimos condições para mudar o que já aconteceu e tampouco podemos controlar o que pode acontecer no porvir. Logo, só temos o agora e nada mais.
    Mas se de fato vivemos a eternidade do momento, pra quê fugirmos dele? Interessante que este questionamento me fez lembrar um trecho do livro Assim falou Zaratustra, do filósofo alemão Nietzsche e que pode nos ajudar neste aspecto. Refere-se ao diálogo de Zaratustra com o anão. Para quem não sabe, o filósofo criou este personagem na sua proposta filosófica: uma espécie de sábio que deseja trazer mais conhecimento para humanidade. Bem, Zaratustra questiona o anão acerca do tempo, em particular ao momento. O diálogo se desenrola – mais ou menos nesses termos – com Zaratustra perguntando ao anão: você vê anão, este pórtico com a inscrição: momento? E ele continua: você acha que se formos para trás ou adiante, eles irão se contradizer? O anão diante da sua ignorância não consegue responder, pois ele não percebe o ciclo do tempo. Para ele, o tempo é linear: passado, presente e futuro seriam fixos. A provocação de Zaratustra é que o anão perceba que o único tempo que existe é o instante, o momento e que a nossa pretensão de voltarmos ao passado ou irmos ao futuro sempre nos colocará no lugar onde sempre estamos: aqui. Haja vista que quando lembramos o nosso passado, estamos lembrando no aqui e agora, e quando imaginamos o nosso futuro, imaginamos também no instante presente. A proposta nietzschiana é deveras interessante e parece não só colocar o anão numa ‘sinuca de bico’, mas a cada um de nós. E qual seria essa ‘sinuca’? Que o único tempo que temos está aqui, diante de nós, de graça e que por conta disso, devemos fazer alguma coisa nele. Devemos dar sentido à nossa vida, pois, a cada momento que deixamos de fazê-lo, estamos assassinando nossa existência. Estamos deixando de criar vida. Estamos perdendo literalmente o único tempo que temos. Sendo assim, pensemos a respeito para depois não reclamarmos que o nosso tempo já passou ou que não temos mais tempo para fazer alguma coisa. Pensemos a respeito, pois o tempo não faz nada; o tempo não escolhe. Nós quem escolhemos e sempre vamos continuar escolhendo. Afinal de contas, somos o nosso próprio tempo. Somos a eternidade do momento. Somos o que escolhemos ser. Um grande abraço...

P.S: Dedico este texto para uma mulher que sabe assumir o seu tempo acima de tudo. Refiro-me à Chames Salles Rolim, 97 anos, que no ano de 2014 concluiu a sua faculdade de Direito em Ipatinga, interior de Minas Gerais.

terça-feira, 11 de março de 2014

 ‘ Dança das cadeiras’

   Querido leitor (a), a inspiração para escrever este texto surgiu primeiramente no ano passado, quando na época estava ouvindo um programa na rádio. Este abordava sobre o posicionamento do homem e da ‘nova’ mulher na relação de casal nos dias de hoje. O programa falava principalmente da tomada de decisão da mulher para conquistar seu espaço. Tomada esta que fez a mulher ficar em ‘pé de igualdade’ com o homem – se é que posso dizer assim, pois a nossa sociedade continua sendo machista mesmo com um discurso tido como democrático. Bem, falarei sobre isso depois. A questão é que, mesmo aos ‘trancos e barrancos’, a mulher foi conquistando seu espaço. Tanto que, sua presença não é mais surpresa em diversos seguimentos sociais – haja vista nossa presidenta - que antes só poderiam ser ocupados pelos homens. E aqui, eu já lanço as primeiras questões: a mulher teria conquistado seu espaço ou estaria se sobrecarregando em diversas tarefas (dentro e fora de casa)? E até que ponto tais conquistas afetam, hoje, numa relação de casal? Esta pergunta talvez faça o homem tremer nos seus alicerces, pois... onde ele está? Quem sabe, descansando no ‘berço esplêndido’ das antigas normas sociais. Talvez.
   A outra inspiração veio a partir de uma conversa com uma amiga, numa festa. Falávamos, melhor dizendo, ela falava da dificuldade de alguns homens (ainda bem que nem todos) se relacionarem com essa ‘nova mulher’. Afinal de contas, a mulher, hoje, não precisa ficar à mercê do homem como acontecia outrora, ou seja: quando ela ficava subjugada às normas e regras impostas por um social caracteristicamente machista. Por outro lado, o homem nem precisava lutar por nada, pois o seu espaço já se encontrava pré-determinado: o provedor da família. E hoje? Qual a posição dele? Parece que ele ficou ‘ sem pai e nem mãe’ nessa ciranda. Seu espaço foi sucumbido, já que muitas mulheres tornaram-se mantenedoras das suas respectivas famílias. E o homem? ‘Assistindo de camarote’? Alguns até estão – a priori – correndo atrás ou pelo menos tentando: cuidam da casa, da educação dos filhos e até estão mais preocupados com a própria estética (atribuição esta que era anteriormente exclusividade da mulher). A impressão que temos, é que o homem está buscando um novo posicionamento, ‘correndo atrás’, ‘ralando’ para alcançar seu espaço que ficou aberto. E aberto, diga-se de passagem, pelo próprio desejo da mulher em conquistar o seu próprio espaço. A dúvida que persiste é: seria uma conquista ou acúmulo de atribuições? Quanto ao homem, parece que está num labirinto sem saber exatamente quem ele é e muito menos se vai encontrar uma saída.
   Diante dessa ‘dança das cadeiras’, onde os espaços não podem ser mais guardados, homens e mulheres, ou melhor, seres humanos - os relacionamentos não se restringem apenas às relações homem/mulher - estão passando por uma espécie de ‘retorno de Saturno’, no qual transformações são iminentes e necessárias. E como toda transformação não passa em vão, ou seja: sofremos pela própria mudança até de fato fazê-la, haja vista que saímos de algo conhecido para adentrarmos no desconhecido. O que os seres humanos estão construindo? Mulheres reclamam que estão sobrecarregadas (trabalham dentro e fora de casa). Seria o preço da emancipação? Ou o homem não quer abrir mão da sua posição antes determinada? Enquanto isso, os homens reclamam que as mulheres agora são autossuficientes, que elas não precisam mais de um homem ao seu lado. Será?! Penso que não é bem assim. Elas querem sim! Mas querem um companheiro ao seu lado. E aí precisamos (homens e mulheres) superar-nos a nós mesmos. Algo similar à proposta nietzschiana do Übermensch ou o super-homem: criar uma nova ordem, uma nova lei e com isso quebrar os grilhões de condutas engessadas como: ‘o homem faz isso e a mulher faz aquilo’. No meu modo de ver, não há demérito algum nas conquistas das mulheres e muito menos na busca do homem por um novo homem. Lembremos que nessa ‘dança das cadeiras’ o mais importante não é quem vai ficar sentado e sair vencedor, até porque o vencedor (a) ficará sozinho sentado numa cadeira, mas sim que devemos reconhecer nossas possibilidades para versatilidade (fugirmos da normatização: o que é atribuição de homem e o que é atribuição de mulher) e passarmos a estar com este outro pelo simples desejo de trocar, de amar e ser amado. E que para tal, não precisamos estipular atribuições prévias. Precisamos sim, nos colocarmos como companheiros. Companheiros na acepção da palavra: “aquele que acompanha”, “aquele que tem solidariedade”. Portanto, o que importa não é o papel do homem e da mulher dentro de uma relação de casal, mas sim a cumplicidade que ambos podem construir. Utopia? Pode ser, mas não custa tentar. E talvez o grande desafio esteja nas mãos do homem, uma vez que ele ainda vive sob a égide de uma sociedade machista. Será então que ‘o feitiço virou contra o próprio feiticeiro?’ Um grande abraço...